Discurso dos formandos 2014

Resultante de uma tempestade de ideias dos formandos, após exaustivas pesquisas e ensaios textuais. O discurso abaixo foi sendo delineado mantendo a  marca e a ideia de cada um dos formandos. Mais que uma colcha de retalhos, o texto é uma "bolachinha de nata" ( aquela do Dia das Mães ou dos Pais), cada um coloca um ingrediente e todos amassam, amassam e fazem as bolinhas. A professora só coloca no forno.

Confira como ficou:

 

DISCURSO DE FORMATURA - 2014

ORADORA: FERNANDA BRANDÃO GUTIERREZ DURAN

Senhores membros da diretoria,

Senhores professores e funcionários,

Senhores pais e convidados,

Queridos colegas,

               

... Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria.....

            ... se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria....

            Essa frase ecoou em nossas mentes, durante todo o ano! E ainda a evocaremos muitas e muitas vezes em nossas vidas, lembrando aquilo que, talvez, tenha sido o marco histórico de nossas vidas....

            Mas, por que nos marcou tanto assim? Terão sido os exaustivos ensaios? Ou será que foi a persistência do trabalho? Ou ainda, uma grande novidade!!!! Nunca tínhamos ouvido falar dessas histórias.... Tiradentes na Europa? Encontros com Jefferson? Isso não está nos livros didáticos! Na verdade, somos precursores de uma nova aprendizagem... em primeira mão!

            Alguém aí já ouviu falar de uma certa Dra. Isolde Helena Brans e seus estudos sobre a Conjuração Mineira? Pois nós não só ouvimos, como também estudamos juntos, com ela!!! Privilégios desse tipo só fazem parte da nossa Escola! Foi assim que aprendemos durante toda a nossa trajetória, no IEIJ. Pela emoção, pelo envolvimento de cada um de nós e de cada um dos professores nessa empreitada! Novamente a emoção! Parece que esse sentimento tão forte em nós, adolescentes, marca profundamente cada aprendizagem que fazemos!!Já foi dito que o único conhecimento possível ao homem é o afetivo. A palavra AFEIÇÃO deriva do latim, que significa ATINGIDO. Isso quer dizer que, para entender o que significa CONHECER, não basta compreender os circuitos elétricos e bioquímicos do cérebro: conhecemos aquilo que nos afetou! Se fixarmos o pensamento em nós mesmos, descobriremos que somos feitos daquilo que nos impressionou – as lembranças referem-se aos fatos que nos marcaram. Somente os que nos marcaram – façamos um breve exercício de reflexão: o que nos vem à mente, quando pensamos no que aprendemos? O cheiro das coisas, o gosto de uma comidinha – lembram-se da aula gourmet?; uma grande frustração (não dançamos na festa junina?); a sensação gelada da água fria em que nos banhamos naquele passeio pelos distritos, no salto Apucaraninha....tudo isso nos AFETOU, nos ATINGIU. Isso é aprender! Aprendizagem viva, sentida na pele... e nas emoções!!

Quem não chorou quando ouviu a Carol repetindo a frase de Tiradentes....Se dez vidas eu tivesse...E quem não se emocionou com a Dra. Isolde, naquela memorável manhã de ensaio, quando, exaustos de ensaiar e ensaiar; nos calamos e “congelamos” com a sua chegada... e fizemos, talvez, a melhor apresentação de todos os tempos, sob as vistas da grande pesquisadora!

Dostoiévski, Shakespeare e Mark Twain – querem um trio com mais autoridade do que esses três, para nos afetar? 

Ao nos apresentar Raskólnikov, chegamos a pensar que estávamos com o mundo às avessas! Discussões como: o que leva uma pessoa a cometer um crime? Pobreza, situação social, vontade, superioridade, ganância? E qual é a consequência desse crime? Podemos listar diversos casos. E as consequências podem ser prisão, morte, ou até liberdade sem nenhuma suspeita. Dependendo do caso, tudo ou nada pode acontecer. A reflexão sobre o que leva alguém a cometer um crime e o que acontece com essa pessoa tomou várias de nossas manhãs, - e nos levou a pensar em nossos “crimes”, em menores proporções,  mas tão  conflitantes quanto os sentimentos de Raskol.

E então, Twain nos traz a companhia de Joana D’Arc! Uma camponesa, Joana não passava de uma adolescente de 16 anos – quando saiu de sua aldeia na Lorena, disposta a pegar em armas e lutar numa guerra contra a Inglaterra que já durava 91 anos. Joana D'Arc, além de saboroso e movimentado, nos leva a uma reflexão inteligente. Não se limitou a contar uma vida de santo ou a celebrar feitos guerreiros. Também deixou no ar a questão da recorrente injustiça histórica contra líderes que realizam um sonho coletivo longamente acalentado e em seguida são sacrificados pelos detentores de privilégios, preocupados apenas com seus interesses. Aquilo a que Cecília Meireles aludiu quando disse de Tiradentes: "Foi trabalhar para todos, mas por ele quem trabalha?". A Donzela de Orleans nos inspirou em  inúmeras passagens a sermos determinados, a buscarmos ideais que nos façam, realmente, detentores de uma geração. Não é fácil, para nós, tomarmos consciência sobre a essência da vida. Estamos expostos a um modelo de vida em que imperam as leis da mídia, reduzindo as necessidades e os desejos básicos da pessoa ao consumo, de bens e de informações. Quantas vezes fomos tentados a deixar de lado as Cults e continuar com o bate-papo on line! Nem sempre conseguimos, o que resultou em alguns zeros e não feitas; mas, na maioria das vezes, educamos a nossa vontade – e realizamos as tarefas!! Se não, não estaríamos hoje, aqui! Afinal, somos a geração ALFA das Cults. O nosso desejo de vencer desafios, cada vez mais complexos, exigia situações problema mais profundos!!

Façamos jus ao nosso símbolo – a nossa corujinha, tão simpática e revolucionária! Em nossas pesquisas, vimos que a coruja é a ave soberana da noite. Para muitos povos, a coruja significa mistério, inteligência, sabedoria e conhecimento. Ela tem a capacidade de enxergar através da escuridão, conseguindo ver o que os outros não veem.

A coruja simboliza a reflexão, o conhecimento racional e intuitivo. Na mitologia grega, Athena, a deusa da sabedoria, tinha a coruja como símbolo. Os gregos consideravam a noite o momento propício para o pensamento filosófico. Pela sua característica de animal notívago, era vista pelos gregos como símbolo da busca pelo conhecimento.

Enquanto todos dormem, a coruja fica acordada, com os olhos arregalados, vigilante e atenta aos barulhos da noite. A coruja tem a particularidade de conseguir girar o pescoço em até 270° para observar algo ao seu redor, permanecendo com o resto do corpo sem o menor movimento. A grande capacidade de visão e audição torna as corujas exímias caçadoras. O termo "coruja" geralmente é aplicado ao pai ou a mãe que ressalta com um certo exagero as qualidades dos filhos. É extensivo a outros familiares como tios, avós e outros.

Nossos pais...Ah! nossos pais! Qual foi o significado dado por vocês, querido pai e querida mãe, à nossa educação? Hoje, entendemos que o seu interesse verdadeiro por nós, a sua disponibilidade em se ocuparem conosco, resultou de uma opção entre a satisfação de suas múltiplas necessidades pessoais insatisfeitas no curto espaço de tempo que lhes resta entre um trabalho e outro. Esta tarefa – a de educar – que não se esgota, implica em uma contínua retomada, passando por momentos que incluem cansaço, preocupação e, até mesmo, perplexidade pelo que acontece à sua volta. Agradecemos, a vocês, sobretudo, pela sua perseverança em nos proporcionar essa grande aventura que foi a vida nessa Escola.

Consideramo-nos privilegiados em estudar no IEIJ, pois a possibilidade de aprendermos, desde pequenos, sobre o nosso lugar na sociedade, proporcionou-nos a aprendizagem de valores, de conhecermos a realidade tal qual ela é. O nosso projeto na creche, “EDUCANDOS EDUCANDO EDUCANDOS”, é um projeto prático de modificação de uma realidade que, além de educar os alunos da creche e os do IEIJ, está promovendo relações positivas entre diferentes realidades sócio econômicas e educacionais, despertando responsabilidades em nós quanto ao nosso papel na sociedade. Dessa forma, oportunizamos uma educação de qualidade ao maior número possível de pessoas e sentimo-nos afetados a estimular e a compartilhar com o outro a alegria do aprender.   E o melhor de tudo, ainda fomos reconhecidos com Menção Honrosa no Prêmio Londrina de Cidadania por este trabalho! Novamente a afetividade, a emoção compartilhada! Isso é aprender! É impressionante o poder de transformação que mesmo um pequeno grupo de pessoas comprometidas pode gerar. Desde que começamos a interagir com essas crianças, nos demos conta que, às vezes, duas ou três vozes pedindo algo, são suficientes para convencer toda uma comunidade. A história de Malala – hoje Prêmio Nobel da Paz – menina de 16 anos (quase a nossa idade) que com uma simples ação de exigir educação em seu país, conseguiu mover o mundo – mostra como pequenas iniciativas podem ter impactos enormes.

O que o Instituto faz de mais admirável é engajar toda a comunidade escolar – porque aqui, não são só os alunos que aprendem – na busca pela excelência educacional. Todos ligados à Escola são muito comprometidos: pais e alunos, professores e diretoria, funcionários e até ex-pais, ex-aluno... todos sabem que precisam dar muito duro se quisermos a qualidade de ensino almejada para nos tornarmos em uma potência. Essa deveria ser uma questão nacional – não só nossa, mas a de nossa cidade, do nosso país, e, por que não, do mundo?

Ser ou não ser – eis a questão. Não somente shakespeariana, mas, existencial!! Estimados professores – o que somos hoje, é resultado de seu empenho! Durante anos a fio, vocês foram os responsáveis pelo desenvolvimento dos mais importantes conhecimentos: de descobrir, de concluir, de interferir nos fenômenos físicos e sociais, interferindo e mostrando caminhos nas questões sociais e morais (Advertências? Registros? Restabelecer laços de amizades?). Através de DPOs, de cobranças de Cults, de disputas esportivas na hora do lanche! Como foi gostoso passar tudo isso com vocês! Vocês são responsáveis por essa educação construída e que – no futuro – refletirá em homens e mulheres que terão, cada um, um pedacinho de cada um de vocês!

Queridos colegas, lembram-se do momento em que nos divertimos analisando, cada um, a sua pasta escolar? Tivemos, em nossas mãos, a retrospectiva de nossas vidas na Escola! Verificarmos as garatujas, aqueles rabiscos que só as professoras sabiam ler (ainda bem que decifraram e registraram as nossas escritas!); lembrarmo-nos de nossos pensamentos na produção de textos – demos boas gargalhadas - ; sabermos sobre a evolução das estruturas de pensamento: tudo isso faz parte de nossa história! Vivemos, cada um a seu modo, as fases de preguiça, às vezes de teimosia. Em outros momentos, sofremos com os resultados das avaliações; registramos a beleza de nossa transformação: de crianças limitadas pelo conhecimento e pelas possibilidades – ao que somos hoje – com capacidade de criticar, de refletir sobre a vida.

Quando pensamos no sentido da vida, o que queremos da vida, qual é o grande sonho, uma das primeiras coisas que nos vem à mente é: ser feliz. A busca da felicidade é o sonho de todos. Será que alguém aqui tem o sonho de ser infeliz? Mas o que é ser feliz? Como alcançamos nossa felicidade? Uma lição que aprendemos, em uma palestra, foi: ser feliz é desfrutar a vida. Saborear. Viver intensamente cada momento. Para que a vida tenha sentido precisa ser vivida nesse movimento, no meio dessa tensão entre coisas contraditórias, opostas. Viver bem, viver com sabedoria não significa viver só momentos felizes. Momentos tristes, dor, saudades, frustrações também fazem parte da vida. E isso também precisa ser vivido, experimentado. Não devem ser camuflados, escondidos. Um dos momentos mais importantes foi a partida de nosso inesquecível João Lucas. Precisamos sentir a tristeza, chorar, ter saudades, lembrar e não querer fugir desses momentos. Temos que aprender a trabalhar esses sentimentos. O sofrimento traz crescimento e amadurecimento. Ficamos mais fortes e sábios quando conseguimos superá-los.

Colegas, somos, além de corujas, dentes de leão. (Para quem não sabe, esclarecemos que a coruja e o dente de leão compõem o design da camiseta que desenhamos para comemorar a nossa formatura).  A flor Dente-de-leão possui o significado de liberdade, otimismo, esperança e luz espiritual. O nome pelo qual a planta Dente-de-leão é popularmente conhecida tem origem na aparência da planta: as suas folhas são muito dentadas e as suas flores amarelas parecem com a juba de um leão. Em determinada fase, quando a flor é soprada, ela se desfaz com facilidade. As sementes são levadas pelo vento, se espalham e, no período certo, florescem novamente. Devido a essa característica é também conhecida pelo nome "esperança". A frase "abre as janelas e deixa a esperança entrar na tua casa trazida pelo vento da tarde" é uma referência ao Dente-de-leão. Há quem diga que ao soprar uma pétala da flor deve-se fazer um pedido sobre o amor ambicionado. Se o vento trouxer de volta a pétala, é sinal de que o desejo será brevemente realizado.

A escolha da simbologia do dente de leão não foi casual. Precisamos acreditar que somos capazes de lançar nossas sementes em todas as direções. Sem, no entanto, perdermos as raízes. Quais dentre nós voltará, nos anos seguintes, para visitar velhos amigos? Quem não voltar, vai se lembrar de como foi? Hoje, todos sonhamos e queremos um futuro vitorioso, ser uma grande peroba, ou uma linda sibipiruna, como as nossas... bem amarelinhas..., talvez. Possivelmente, nem todos consigam, pelo menos, não da maneira como desejaram. Mas as pequenas ervas e arbustos também têm a sua função essencial na natureza, todas elas cumprem a sua tarefa, por menor que seja. Isso significa sucesso! Por isso, todos somos capazes de aprender. Mesmo que nem todos possam resolver equações e criar sistemas no mesmo nível. Há beleza na diferença.

Daqui para a frente, vai valer o impulso do sopro. Saímos daqui para a nova aventura, levados pelo sopro de cada um de vocês, aqui presentes. Essa força que vocês imprimem em nós permitirá que nossos sonhos se realizem! Seremos felizes? Saberemos aproveitar cada momento futuro, sem desperdiçar a oportunidade do agora e sem comprometer o que vem adiante?

Vamos conferir! Até breve!

Em nome da turma, agradeço aos presentes.

Muito obrigada!