Esta e outras perguntas foram muito comuns entre os primeiros temas debatidos em lives envolvendo especialistas da educação. Há muitas dúvidas de como operar, de como fazer, de como ensinar na condição não presencial que a Covid-19 nos impôs. Passado o primeiro espanto, superados os primeiros desafios e agora já com algum aprendizado sobre as novas oportunidades para os processos educativos nos perguntamos:
Estamos certos de que há uma mudança em curso, mas ela não está só no âmbito da educação. Há um novo condicionante social ou como diria o sociólogo há um novo “fato social”? Durkheim, um dos fundadores da sociologia, desenvolveu o conceito de “fato social” compreendendo-o como um conjunto de instrumentos culturais determinantes sobre a forma de pensar, sentir e agir das pessoas. Desta forma, todo fato social força as pessoas a se adaptarem ao padrão comportamental do coletivo. Neste contexto, a escola ocupa um lugar importante para a conformação dos indivíduos. Mas, qual é este novo fato social e como ele poderá alterar nosso contexto educacional?
Procure lembrar um pouco do que você experimenta no seu cotidiano. Vou te ajudar na reflexão elegendo algumas circunstâncias que provavelmente você já viveu:
• Como você se sentia quando alguém, ao cumprimentar, não lhe dava a mão? E agora, pós-Covid-19, isso importa?
• Você se importava que alguém estivesse perto de você nas gôndolas de mercado?
• Você achava estranho os japoneses usarem máscara o dia inteiro? E agora, se alguém se aproxima para falar contigo sem máscara?
Os nossos arranjos sociais e os padrões coercitivos estão se alterando. Há um novo fato social, há uma nova força externa, existem novas forças coercitivas e elas são gerais, globais. O que eu quero dizer com isso? Para nos ajudar nesta imersão, vou chamar uma citação clássica:
“Se todos os corações vibram em uníssono, não é por causa de uma concordância espontânea e preestabelecida; é que uma mesma força os move no mesmo sentido. Cada um é arrastado por todos”. (Durkheim, Fato Social)
A Covid-19 passou a ser uma ameaça comum e nos moveu para o isolamento social e, consequentemente, para o que passamos a chamar de “Ensino Remoto Emergencial”. Um novo constructo pedagógico apoiado por diferentes recursos tecnológicos surgiu, mas não foi uníssono. Fomos arrastados e, como não tivemos o melhor tempo de planejamento, algumas experiências foram aleatórias. Agora, vivemos um novo momento e já ouvimos falar em uma nova nomenclatura: “Ensino Remoto Intencional”. Para isso, é necessário termos intencionalidades claras, favorecidas por recursos adequados, criando uma rotina de estudos que contemple uma identidade pedagógica.
Resumindo, saímos do Emergencial e nos inclinamos ao Intencional. Certo! E qual será o termo futuro? Como será depois que voltarmos aos espaços escolares convencionais? Como administraremos os tempos de aprendizagem?
Tenho uma proposta. Vou emprestar um conceito da era digital: Convergência Digital. Este conceito nasce para descrever como diferentes devices (instrumentos) integram-se nas suas funcionalidades e comandos. Com a convergência digital, experimentamos a criação de comunidades virtuais, que permitiu a troca de experiências por afinidade. Na era da convergência digital, surgiu o neologismo “Prosumidor” para definir as pessoas que ao compartilhar algo produzem conteúdo e ao mesmo tempo consomem outros conteúdos compartilhados.
Se em pouco tempo conseguimos elaborar uma Educação Remota, agora já estamos prontos para uma Educação Remota Convergente. Emerge uma oportunidade de flexibilização dos tempos e espaços e estaremos mais seguros para novas composições pedagógicas no que diz respeito à presencialidade e ao ensino a distância. Se há pouco tempo havia alguma dúvida sobre a eficácia da aprendizagem a distância, agora passou a ser uma alternativa de continuidade dos estudos. Se havia alguma dicotomia, agora experimentamos a convergência.
Em uma live recente fui questionado se no futuro manteremos esta dicotomia de modalidades a distância e presencial. Minha resposta no momento foi que já estamos caminhando para essa convergência e a Covid-19 acelera este encontro. As divergências extremadas começam a encontrar confluência na flexibilização dos tempos e espaços, das tecnologias e metodologias.
Volto ao trecho do pensamento de Durkheim quando diz: “uma mesma força os move no mesmo sentido”. Convergência. Eis o paradoxo contemporâneo: o distanciamento social nos aproximou.