A função paterna e a construção da autonomia

Confira os ensinamentos do professor Geraldo durante nossa live sobre a função paterna e a construção da autonomia.

 

No começo do mês de agosto, o IEIJ convidou Geraldo Luiz de Souza, professor de filosofia e história, além de terapeuta de casal e família, para participar da nossa Live de dia dos pais. Com o tema A função paterna e a construção da autonomia, Geraldo conversou sobre os mistérios insondáveis de como acompanhar as transformações no relacionamento do pai com a criança/adolescente. 

 

Se interessou pelo assunto? Você pode conferir a Live em nosso perfil do Instagram, mas também trouxemos os tópicos tratados em forma de artigo. Confira!

 

Dia dos pais no IEIJ

 

O IEIJ costuma preparar o dia dos pais de uma forma bem peculiar. Nossos alunos fabricam os próprios presentes e, em tempos de não-pandemia, preparam doces e quitutes para homenagear, servir e cuidar daqueles que cuidam tanto deles. 

 

Nesse ano tivemos que podar o abacateiro do parque, que já estava muito alto e não era possível alcançar os frutos. Por receio desses frutos caírem e machucarem algum, estudamos a poda e aprendemos muita coisa. Sabia que quando você poda a árvore, fortalece suas raízes e potencializa a formação de galhos e frutos?

 

A poda exige cuidado, delicadeza e conhecimento. Tem que saber o que está podando, caso contrário torna-se uma amputação. A poda é para que haja vida, você tira algo para que tenha canalização da seiva para mais produtos. Gostamos de pensar nisso como uma lição da natureza.

 

Poda do Abacateiro no IEIJ

Processo de poda do nosso querido abacateiro

 

A função paterna

 

A função paterna no desenvolvimento da autonomia acontece na medida em que essas podas vão correndo com delicadeza e cuidado, para que os frutos apareçam. Os frutos são o que nossos filhos vão carregar para o resto da vida, gerados a partir das podas que eles aprenderam a fazer e perceberam que são necessárias.

 

A reflexão e vivência da experiência do nosso abacateiro diz muito sobre a função paterna e o desenvolvimento da autonomia. As crianças passaram por um momento de muito entristecimento, mas com os pedaços que serão dados aos pais, as crianças carregarão sempre a lembrança da poda. Essa relação afetiva é muito importante.

 

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Relações paternas com as crianças

 

Com os pequenos, a fala tem um efeito inferior ao da linguagem corporal e das atitudes tomadas. Estamos em estado constante de observação, a criança aprende muito mais com o que ela vê do que com o que lhe é dito. Portanto, a função paterna na primeira infância, na fase inicial do desenvolvimento da criança, é extremamente importante.

 

A presença é o que traz segurança, é o desenvolvimento da capacidade da criança saber que se está presente sem que se diga. Na primeira infância, é necessário quatro elementos para o desenvolvimento: nutrição, contenção, proteção e testes, de uma certa maneira, para o exercício de autonomia de acordo com a etapa adequada. 

 

Não se priva uma criança de andar porque ela vai cair, mas sim de determinados lugares que ela não tem condições de andar. Nutrir e conter são extremamente importantes. Poda tem a ver com o conter, que é a função paterna. A materna está mais ligada à função de nutrição.

 

Porém, fazendo o devido esclarecimento, quando falamos de função materna e paterna, não estamos falando de mulher e homem, e sim de funções paternas que a mãe também tem que desenvolver e funções maternas que o pai também precisa desenvolver. 

 

A função paterna é a de conter e projetar, e se estende para a vida inteira. Conter para que se evite uma situação que possa ser uma situação de falta de limite, mas ao mesmo tempo empurrar para que se arrisque. É fácil utilizar um exemplo, aquilo que todos os pais já ouviram ou experimentaram: o filho aprendendo a andar de bicicleta. 

 

Partes do abacateiro cortado

Com partes do nosso abacateiro foram feitos os presentes aos pais

 

Falas e ações

 

Um aspecto relevante é a insegurança dos pais em relação a sua função. Nos dias atuais, temos muitas informações e pesquisas que nos ajudam, mas possivelmente gera uma enorme insegurança por criar a sensação de explicar aos filhos o que você faz.

 

Como já mencionado, para a criança as atitudes são mais importantes que explicações, elas já terão que escutar muito no decorrer da vida. E não é porque às vezes tratamos crianças como adultos, que ela irá compreender e corresponder às expectativas de comportamento de adulto.

 

A poda seria chegar e fazer o que acha correto, sem ter que se explicar. De vez em quando claro que vamos machucar nossos filhos, por isso acaba havendo um sentimento de culpa na relação e parece que tem que se desculpar diante da atitude para que eles entendam e não carreguem traumas. Mas temos a intuição que nos ajuda nesse processo.

 

Na fase da infância, o aspecto principal é a atitude que os responsáveis tomam. Se falarmos muito mais do que fazemos, na adolescência seremos pegos na incoerência.

 

O poder da decisão

 

A questão da decisão não é função da criança, e sim do adulto. A decisão é em questões pequenas, que dizem respeito ao universo dela. Na atualidade, crianças e adolescentes estão com um peso muito grande sobre os ombros e, por mais que aparente ser uma “atitude descolada” dos pais, ainda existem certas coisas que os responsáveis precisam decidir.

 

Decidir gera angústia, que nos leva a uma situação de reflexão. A criança deve fazer isso em situações pequenas, não sérias. Se isentar da responsabilidade paterna e passar para uma criança em nome de uma pseudo democracia, é algo que afetará futuramente. 

 

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Os desafios da adolescência 

 

Na adolescência, três elementos são muito fortes e temos que estar atentos. Primeiro de tudo é a sexualidade, um tema extremamente abrangente que infelizmente tem sido muito restrito à genitalidade. Não tratando de aspectos físicos, mas sim da sexualidade que envolve todo o nosso ser. O jeito de falar, ser, sentar, expressar, sentir e assim por diante.

 

Isso para o adolescente é um imenso desafio, a presença dos pais acaba sendo muito importante. Acompanhar esse processo é angustiante e, às vezes, é possível que a atitude que mais acabamos por realizar seja a de ouvir, por receio de partilhar a própria adolescência.

 

Quando os filhos chegam na adolescência, criamos certos temores que causam dificuldades na comunicação. As situações desagradáveis que nós tivemos, algumas experiências dolorosas, nós queremos poupá-los. E, por isso, acabamos fazendo com o adolescente exatamente o que não funciona: dizer o que ele tem que fazer.

 

Preparação do presente do dia dos pais

Processo de preparação do presente

 

Ouvir e compartilhar

 

Em determinados momentos, o que o adolescente precisa ouvir é o que nós experimentamos, como as nossas inseguranças, frustrações e momentos bons. Portanto, esse aspecto ligado ao desenvolvimento é muito importante: ouvir e compartilhar.

 

Porém, caso haja a necessidade de dizer algo, é muito importante falarmos de nós e não dele, nem o que ele deve fazer no momento. Contar sobre si mesmo, mas não no sentido de tornarem-se confidentes. 

 

A transformação em indivíduo

 

A questão da identidade na adolescência também é bastante sofrida, porque nós, pais, sentimos que nossos filhos deixam de gostar da gente. Passam a ter certas posturas e se tornam juízes implacáveis, inclusive do nosso comportamento. Mas tudo isso faz parte do processo.

 

Até então o filho sempre esteve junto aos pais, mas agora começa a etapa de individualização. O adolescente está se transformando em um indivíduo e, para que ele perceba isso, precisa “rejeitar” os pais. Claro que não necessariamente signifique brigas, mas vai haver o distanciamento e é importante que aconteça.

 

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Autonomia aos poucos

 

A autonomia é um processo de ensaio e erro.Trata-se de uma negociação com o adolescente: eu te dei autonomia e veremos como vai se comportar. Caso a resposta seja positiva, estende-se um pouco mais. A autonomia vai acontecendo aos poucos.

 

Se na infância você coloca a criança no papel decisor, irá comprometer esse processo na adolescência, que é o momento em que tem que tomar decisões mais sérias sob a nossa supervisão, acompanhamento e orientação. E, claro, sob nossa correção e punição quando necessário.

 

Um pouco mais da preparação do presente com parte do abacateiro

Um pouco mais da preparação do presente com pedaço do abacateiro

 

O medo de errar

 

Nessa busca pela autonomia, nós, enquanto pais, ficamos muito apreensivos. “Será que estou fazendo certo?” “Será que estou fazendo errado?” “Se eu errar, como fica isso?” são perguntas que nos fazemos constantemente. Mas, sobre o erro existem dois fatos, o primeiro é que o erro é a única certeza que temos na educação dos nossos filhos.

 

A segunda é que nosso erro é de extrema importância para que eles aprendam a crescer e possam amadurecer. Então, nós que buscamos sempre o melhor, temos dificuldade em admitir que erramos, e mais dificuldade ainda em admitir que nossos erros são importantes para nossos filhos. Aproveite esses erros e trabalhe para ser uma pessoa melhor!

 

No aprendizado não seria diferente: erros são inevitáveis e parte do processo, através deles vemos onde precisamos melhorar. Aqui no IEIJ, nossos materiais são moldados para atender as necessidades de cada aluno e nossas aulas são planejadas diariamente de acordo com o resultado da anterior. Somos pioneiros na educação, acreditando no aprendizado através da prática e em uma pedagogia interdisciplinar. Agende uma visita!